26 julho 2025 - 10:24
Por Que Até os Corações dos Crentes, Às Vezes, Perdem a Esperança?

Em tempos onde as ansiedades econômicas e as pressões sociais afligem a todos, até mesmo os crentes, às vezes, se veem presos na escuridão do desespero. Este artigo explora a relação entre a confiança em Deus (tawakkul), a oração (du'a) e a vitalidade, buscando uma abordagem prática da fé em meio a crises reais.

Segundo a Agência Internacional de Notícias AhlulBayt (ABNA): O Hojjat al-Islam wal-Muslimin Mohammad Hossein Amin, escritor e pesquisador religioso, em um artigo exclusivo para a ABNA, analisou a questão de por que, apesar da religiosidade e da fé, muitas pessoas sofrem de desespero e perda de esperança. Com uma abordagem analítica e religiosa, ele busca mostrar como a fé pode ser aprofundada, transformando-se em uma força real para a paz e a resistência.

Na era da confusão e das pressões esmagadoras, a fé não é mais uma palavra cerimonial; tornou-se o único pilar para as almas que lutam para respirar sob os golpes contínuos da vida. Aqui, a religiosidade por hábito não é mais suficiente. A fé deve funcionar; deve servir à vida; caso contrário, não resistirá à onda de desespero. Este artigo é um esforço para encontrar uma versão mais profunda de tawakkul e du'a, uma versão que esteja em sintonia com a nossa realidade atual.


1. Quando Até o Coração dos Crentes Trema

Um verdadeiro crente nunca cai na desgraça do desespero, a menos que sua fé seja apenas uma fachada superficial e sem raízes. O que hoje faz com que muitos sofram de dúvida e desespero não é a ausência de fé, mas a fraqueza em sua essência e profundidade. Uma fé que é meramente para cumprir um dever ou uma convenção social não pode ser um refúgio contra as ondas avassaladoras da vida.

A fé deve penetrar a alma, misturar-se com o conhecimento e transformar-se de um mero slogan em uma fonte de paz e tomada de decisões. Se isso acontecer, como a história demonstrou, os verdadeiros crentes se tornam pessoas poderosas, ativas, influentes e esperançosas. Figuras como Sayyida Zaynab (S.A.), o Imam Musa al-Kazim (A.S.) e o Imam Khomeini (R.A.) são exemplos claros dessa fé profunda; uma fé que não só os salvou do desespero, mas também impulsionou uma sociedade.

No entanto, a fé verdadeira, quando surge do conhecimento, da ação e da confiança nas promessas divinas, age como uma barreira sólida contra as tempestades do desespero. A história do Islã está repleta de exemplos de verdadeiros crentes que, nas crises mais severas, não apenas não perderam a esperança, mas, com poder e influência, mudaram o curso da história. Sayyida Zaynab (S.A.) em Karbala, o Imam Musa al-Kazim (A.S.) durante os longos anos de prisão, e o Imam Khomeini (R.A.) durante seu exílio e luta contra o regime tirânico, todos foram símbolos de uma fé enraizada e viva que não apenas os manteve firmes contra o desespero, mas também restaurou a esperança a uma sociedade exausta pela opressão e pelo desespero.

O Alcorão Sagrado, ao enfatizar "Não desespereis da misericórdia de Allah" (Surah Yusuf: 87), considera o princípio da esperança não apenas obrigatório para os crentes, mas para toda a humanidade; no entanto, o usufruto desse espírito divino requer uma fé que tenha iluminado a alma, e não apenas a língua.

O medo do futuro, a pressão financeira, a doença, a solidão e o colapso das relações sociais são realidades que até mesmo os religiosos enfrentam. O fato de algumas pessoas, apesar da oração e da súplica, ainda sentirem um vazio ou cansaço interior não é um sinal de fraqueza da fé, mas sim um sinal da incapacidade de uma fé superficial de responder aos problemas profundos da vida.

Se a fé não penetrar a alma e não se transformar em uma ação interna, não poderá desempenhar um papel de apoio nas crises. Precisamos que a fé seja tirada de seu estado ritualístico e se torne uma fonte interna de interpretação e resiliência.


2. Tawakkul: Além de Entregar as Coisas a Deus

Tawakkul, na perspectiva religiosa, não é apenas dizer "Deus é grande", mas é uma ação consciente que deriva de um conhecimento correto de Deus, da existência e do papel do ser humano na vida. Numa narração, consta: "A confiança em Allah tem graus" (1). O grau mais elevado disso é a paz de espírito que resulta da certeza nas promessas divinas.

Nas crises econômicas, quando o dinheiro e o emprego são escassos, o tawakkul deve se manifestar no comportamento humano: evitar a ansiedade, manter a esperança, fazer um esforço lógico e gerenciar as emoções. Estes são os sinais de tawakkul, e não apenas rezar sem agir. O Imam Sadiq (A.S.) disse: "O crente se esforça neste mundo como se fosse viver para sempre" (2). O crente não cessa seu esforço, mesmo que as crises sejam intensas.

O tawakkul é o pilar psicológico do crente, não no sentido de falta de planejamento, mas no sentido de agir com confiança nos resultados divinos. O tawakkul é uma força para resistir às pressões.


3. "La Taqnaṭu": Esperança Mesmo do Meio das Cinzas

O nobre versículo "Dize: Ó Meus servos, que vos excedestes contra vós mesmos, não desespereis da misericórdia de Allah!" (Surah Az-Zumar: 53) é um dos versículos mais luminosos de esperança no Alcorão. O público-alvo deste versículo são até mesmo os pecadores; quanto mais os crentes que estão exaustos em meio às crises. Deus não fecha a porta da esperança para ninguém.

É narrado que o Imam Ali (A.S.) disse: "Quem conhece a amplitude da misericórdia de Allah, jamais perde a esperança" (3). Isso significa que um conhecimento correto de Deus, por si só, gera esperança.

Aquele que, em vez de focar nas perdas, foca na misericórdia divina, encontra um caminho para a salvação mesmo em meio às dificuldades. A fé em Deus proporciona uma perspectiva positiva para o futuro, não por ingenuidade, mas por conhecer a lei da misericórdia no sistema da criação.


4. Du'a (Oração/Súplica): Uma Força Incomparável para Quebrar o Desespero

A oração (du'a) não é apenas para atender às necessidades, mas uma ferramenta para liberação psicológica, recuperação da paz e reconstrução da esperança. O Imam Sajjad (A.S.), na súplica de Abu Hamzah al-Thumali, fala repetidamente de estados de fraqueza, medo e queixa, mostrando que a du'a não é um lugar para esconder feridas, mas um espaço para revelá-las diante de Deus.

O Alcorão também diz: "Invocai-Me, e Eu vos responderei" (Surah Ghafir: 60). Deus convida o ser humano ao diálogo, mesmo quando pensamos que não haverá resposta. A du'a é uma conexão com uma fonte ilimitada de poder.

Devemos transformar a du'a de um ritual em uma conversa viva, íntima e sincera com o Senhor. Uma du'a que surge apenas da língua tem um efeito superficial e passageiro; mas quando brota das profundezas do coração e da alma, pode quebrar as paredes do desespero e acalmar o coração com a luz da certeza. Em meio às crises, a melhor forma de du'a é se entregar ao abraço da misericórdia divina com lágrimas e esperança, com uma queixa amorosa e uma linguagem despretensiosa. Esta du'a não busca apenas uma resposta imediata, mas o próprio ato de orar se torna uma fonte de consolo e reconstrução para a alma aflita.


5. Tornando a Fé Prática: Como?

Não se pode pedir às pessoas que superem crises de subsistência, desemprego ou medos sociais apenas recitando dhikr (lembrança de Deus). A fé deve se tornar uma ferramenta de resistência. Isso significa ensinar habilidades psicológicas, sociais e econômicas com base na crença religiosa.

Por exemplo, a esperança no Islã não termina com a promessa de recompensa no além; em vez disso, deve-se ver como a paciência e a resistência podem melhorar as estruturas da vida. O Imam Ali (A.S.) disse: "A paciência é para a fé como a cabeça para o corpo" (4). Assim, sem paciência, a fé também não funciona.

A fé prática é aquela que tira o ser humano da passividade. Em reuniões religiosas, escolas e na mídia, deve-se ensinar soluções religiosas para gerenciar crises, mais do que lamentar infortúnios.


Conclusão:

As crises são uma parte inseparável da vida humana; ninguém está imune às dificuldades e altos e baixos da vida. Mas o crente, ao contrário das aparências, não está sozinho. Seu apoio em meio às tempestades é uma crença que, se enraizada na alma, pode encher todo o seu ser de esperança e resistência.

A fé, se limitada apenas a rituais externos e à repetição de frases, desmoronará diante das pressões insuportáveis da vida. Mas se for acompanhada de conhecimento, reflexão e uma vida profunda, pode se transformar em uma fonte de vitalidade interior, esforço incansável e esperança transbordante.

A transição de uma fé superficial para uma fé viva e eficaz é a única maneira de reconstruir psicologicamente uma sociedade que lida com feridas econômicas e sociais. A fé viva é uma luz que brilha na escuridão, não um slogan na tranquilidade, mas um refúgio na turbulência.


Referências:

  1. Al-Kafi, Vol. 2, p. 61
  2. Wasāʾil al-Shīʿah, Vol. 12, p. 47
  3. Nahj al-Balaghah, Sabedoria 93
  4. Nahj al-Balaghah, Sabedoria 82

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